sexta-feira, 2 de setembro de 2016

«Uma escola muito à frente» - o novo livro

É verdade!
Está quase a sair.

Está aqui a sinopse, mas podem ler um excerto

Já imaginaste uma escola muito à frente, em que todas as tarefas são repartidas pelos professores, alunos e funcionários? Já imaginaste se tu e os teus colegas tivessem de ficar ao serviço do recreio, da papelaria, do bar? Ou até se dessem aulas aos alunos mais novos? Pois é isto que acontece na Escola Martim Moniz, isto e muito mais: uma chave mágica que a Mariana desencanta e que supostamente abre todas as portas, um exercício muito à frente sugerido pela professora de Português e que vai gerar a maior confusão; um beijo forçado durante um concerto dos Plátanos para causar ciúmes ao Manuel, um acidente que põe a família Machado toda em sobressalto e a entrada em ação do António, o colega por quem o coração da Margarida vai pulsar. Porém, muito mais à frente ainda vai ser a rebelde Maria do Carmo, a filha do diretor da escola. Prepara-te para a conheceres e não te deixes ficar para trás! 

Ler um pouco do novo livro:

«Uma escola muito à frente» - nº 17

– Eu não percebi patavina do que disseste, Mariana
– confessou a irmã mais velha, enquanto servia os outros de arroz de ervilhas com panados acabadinhos de fritar. – Rebobina, vamos, do início!
O Manuel revirou os olhos, fazendo uma cara que a Maria interpretou logo como «não era melhor deixála acalmar primeiro?». Mas o mal estava feito, e a Mariana recomeçava já a sua narração, bastante indignada, do que se passava na escola. O caso não era para menos, pois muito mudara desde que o novo diretor passara o portão da escola Martim Moniz. Fora imediata, a reviravolta! Agora, estavam mesmo
todos muito entalados, ou pior!, enlatados, comentava a gémea do Manuel, fora de si.
– Eu vou buscar o horário, para compreenderem
melhor.
– Mariana, sentada! – ordenou o pai, tentando conter o riso. Quantas vezes mostrara ela aquela folha de papel nas duas semanas anteriores? Inúmeras, já todos a sabiam de cor. Todos… menos os mais velhos.
– Está bem, pai, mas percebiase tudo muito melhor.
– Vá, explica, não percas tempo – incitou a Margarida, divertidíssima com a cena.
Também para ela tudo parecia diferente e, tratando as coisas pelos seus nomes, muito assustador. Mas era mesmo engraçado ver a irmã naquele estado de exaltação.
– Se eu tivesse ido buscar a porcaria do papel…
– Então, filha… – censurou a Teté, tentando conter o vocabulário que começava a resvalar para as tontices.
– Nesse papel, está tudo preto no branco. Eu já tive aulas de «cozinha para 500 comilões», de «secretaria de alunos», de…
– «Lavagem de casas de banho» – recordou a Mónica, torcendo o rosto num esgar de nojo.
– Isso! A Mónica já começou a lavar casas de banho!!! Mas somos criados dos outros, é?!
– Continuo sem perceber, Mariana – comentou a Maria.
– Dah!!! Então?!
O Manuel tossicou, pedindo uns minutos de atenção.
– Prometo ser breve – informou, antes de começarem as reclamações do costume, mandandoo
calar por esclarecer tudo demasiado pormenorizado. – O novo diretor tem imensas ideias inovadoras para a nossa escola. Uma delas é, para começar, estarmos durante quatro semanas a rodar de funções. Temos de dar aulas, não é só receber, mas dessa parte eu gosto…
– Claro, cromo! – resmungou a Mariana.
– Aulas que podem ser dadas aos professores, aos funcionários ou aos nossos colegas. Eu já dei uma interessantíssima aula…
– Presunção e água benta – sussurrou a Mónica, divertida.
– … sobre dinossauros!
– Por que será que isso não me espanta? – gozou o Miguel.
– Mas, em compensação – continuou o Manuel, imune às piadas –, já recebi uma aula de croché que foi um filme de terror. Quase fiquei com as mãos no meio daquilo, foi uma sorte ter saído de lá com vida! Mas parece que é a área de eleição da dona Fátima, a auxiliar que toma conta das compras e vendas na papelaria.
– Agora despercebi! – gritou a Margarida. – Mas isso não é uma função escolar!
– Pois não, mas como temos todos de dar aulas, ninguém escapa, cada um pode escolher a área em que quer ensinar. No caso da dona Fátima, foi croché…
– Ah, está bem – concordou a Margarida. – A mim só pediram ainda coisas giríssimas como fazer arroz de grelos para um regimento! Grelos!!! Aquilo dá um trabalhão a arranjar! E aproveitar os talos da alface para pôr na sopa? Estamos a poupar imenso na cantina…
– Sou só eu que estou confusa? – suplicou a Maria.
– Posso? – A Mónica tomava as rédeas da conversa.
– A ideia do diretor é genial, a meu ver. Quer que todos, funcionários, professores e alunos passem por todas as atividades da escola, para que as possam valorizar. E não só, para que também as saibam respeitar. Por exemplo, à minha turma já coube a terrível cena de lavar casas de banho. Jurovos,
nunca mais saí de lá sem verificar se deixava tudo limpo e pronto para a próxima pessoa! A ideia funciona mesmo!
– E a mim coubeme ontem a tarefa de pintar uma parede que estava vandalizada – esclareceu a Margarida, mostrando as mãos ainda carregadinhas de bocados de tinta por limpar. – Se apanho alguém a sujar aquela parede, nem sei o que lhe faço! Ficou um espanto!
– O conceito é fantástico – concordou o Miguel. – Como foi ele ter essa ideia? Alguém sabe?
Vários «nãos» surgiram espalhados pela mesa. Nenhum dos irmãos conseguira descobrir essa parte, de facto. A Mónica, agora no 11.º ano, já fizera a mesma pergunta várias vezes, sem obter respostas. O que ela sabia era que a escola se estava a transformar. Não havia refilices na cantina, as casas de banho estavam muito mais asseadas, os canteiros tratados e estimados, ninguém se insurgia com a demora
nas fotocópias, enfim, tudo se modificava aos poucos.
– Só me preocupa uma coisa – disse o Manuel. – É que eu e a Mariana estamos no 9.º, temos de acautelar as notas, porque para o ano já tudo conta! Espero que estas semanas não estraguem os nossos planos.
Houve logo quem se risse, claro. Como podia o Manuel preocuparse com isso? Só tinha notas excelentes, sempre…
– Tenho de ir conhecer esse homem – comentou o Mateus, com uma expressão sincera. – A ideia pode e muda mesmo a vivência de toda uma comunidade. Muito interessante!
– Desde que não tragam essas modernices cá para casa… – avisou a Alice, rindose e começando a recolher os pratos. – Qualquer dia, estou no desemprego! Ah! E amanhã vou arranjar grelos, alguém quer ajudar?
Risota geral, mais uma vez. A Margarida, com os seus onze anos muito espigados, acalmoua:
– Tu és insubstituível, Alice, insubstituível…
Recebeu um abraço com direito a beijo nos cabelos, e a reação dos outros irmãos não se fez esperar:
– Alice, tu estragas essa miúda com mimos!!! – ralhou o Miguel.
Insubstitutível! – disse a Madalena, tentando receber beijos e abraços.
– Não é assim que se diz, é…
– Manel! – ouviuse um coro de vozes a reclamar.
Nada a fazer. Ninguém entendia a necessidade do Manuel pôr tudo no seu sítio, esclarecer tudo, informar de tudo!
– Quando é que eu vou para essa escola?
– Olha, Madalena – disse a mãe –, quando chegares ao quinto ano. Ainda só estás no primeiro, não é?
– Mas já sei escrever o meu nome! Querem que eu escreva?
– Não, Madalena, outra vez, não!!!
Foi a resposta, também em coro, que antecedeu o bolo de cenoura.

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